No final do dia 16 de agosto mais uma data importante na
histórica resistência dos povos originários do Brasil. A instância máxima da
justiça, o Supremos Tribunal Federal STF diz não às pretensões do Estado do
Mato Grosso, de indenização pelo reconhecimento de terras indígenas do Parque
do Xingu, dos Nambikuara, dos Pareci e dos Enê Nauwê. Foi a vitória do direito dos povos indígena
às suas terras tradicionais. Foi um não à pretensão dos inimigos dos índios de
impor a leitura inconstitucional do “Marco Temporal”.
Lágrimas de alegria
Ao ser proferido o último voto dos 8 Ministros do Supremo os
mais de cem indígenas presentes no plenário
deixaram o local envoltos em revoadas de esperança, de rituais e gritos pela vitória. Rejeição
unânime. Vitória de séculos de resistências, de dias de intensos rituais e a
certeza da vitória. Quantas já foram a
lágrimas derramadas ao verem suas lideranças e guerreiros assassinados, seus filhos chorando de fome ou terem suas
vidas ceifadas pela total desassistência do Estado, pela omissão da justiça,
pelas mortíferas leis forjadas na calada da noite pelo poder legislativo ou
executivo.
Vários indígenas, especialmente Kaiowá Guarani, do Mato
Grosso do Sul, não conseguiram conter as lágrimas que regaram os corações dos
Ministros do STF. “Entramos na cabeça deles” afirmou um dos Nhanderu (rezador)
ao se referir às intensas horas de
rituais e rezas para amolecer a consciência e os corações dos Ministros. Ou como afirmou um Nhanderu (líder religioso Kaiowá
Guarani. “Nosso ritual Purahei é para limpar os pensamentos e corações dos
Ministros. Para fazer justiça e reconhecer os direitos históricos constitucionais,
consuetudinários e sagrados dos povos indígenas, às suas terras. “Nós não somos
apenas da terras. Somos a terra. E sem ela não vivemos”, declarou uma das
lideranças presentes na praça dos Três poderes, durante a semana passada.
Foi uma vitória mais do que política,
foi uma vitória da nossa espiritualidade, da força da resistência dos nossos
lideres religiosos.
Vitória da vida, da união
Indígenas,
quilombolas e das populações excluídas desse país. Foi uma sinalização de que é possível
construirmos um outro país, com as vozes e jeitos plurais, com a união da
sabedoria e resistência secular ao projeto invasor e colonizador. Fomos oxigenados em nossa esperança e
desafiados a ampliar a nossa luta permanente com todas as formas de opressão e
exclusão. Que os Projetos de Bem Viver iluminem nossos horizontes e alimentem
nossas estratégias de um outro país e mundo são possíveis e urgentes.
Anciões e crianças, jovens e mulheres, guerreiros(as) todos contribuíram com essa importante
batalha nessa guerra sem trégua, na qual essa vitória foi importante, porém já
num horizonte bem próximo são visíveis
duros embates. É a PEC 215 que
está engatilhada. É a portaria 001/2017 que o presidente Temer acabou de
assinar e impor . O PL 1610, tentando escancarar as terras indígenas à ganância
da mineração e assim por diante. É
fundamental continuar mobilizados e estar atentos às manobras dos inimigos, que
sempre procuraram nos dividir para dominar.
“Agora posso morrer em paz”
Com essa expressão a
anciã Terena, de 86 anos, quis manifestar a importância de ainda
conseguir participar dessa importante vitória indígena nesse momento histórico
da resistência e afirmação de direitos dos povos originários.
Com muito esforço, com auxílio de sua bengala e mãos amigas
ela conseguiu estar nesses dias na praça dos três poderes e no plenário do Supremo
Tribunal Federal. No final do mês de julho dona Esther enviou um documento à
Ministra presidente do STF, Carmem Lucia, ao Ministro da Justiça e ao Papa Francisco
denunciando as barbaridades que os povos indígenas estão sendo vítimas, e
pedindo socorro ! “A terra é nossa vida, nossa liberdade, o mais sagrado para
nós indígenas, e estão tentando nos tratar como animais, nos deixando
encurralados em minifúndios, para favorecer grandes agricultores....Lutamos por
algo que não deveria existi luta por ser direito natural. No entanto, até nos
dias de hoje estamos sobrevivendo a
COLONIZAÇÃO CONTÍNUA”, para não dizer, GENOCIDIA INDIRETO!”
Egon Heck fotos Laila/Cimi
Cimi Secretariado Nacional
Brasília, 18 de agosto de 2017