Depois de 40 hora de viagem, tendo saído de Porto Alegre-RS,
chegam a um oásis em Luziânia, no centro de formação Vicente Canhas. Foi o
tempo de refazer as energias, celebrar o momento de luta e traçar as
estratégias para uma semana de intensos debates com representantes dos três
poderes do Estado brasileiro.
Meiê aviventa as brasas,
coloca sobre elas umas grimpas de pinheiro e lança um punhado de pinhão. É o que restou.
Arrasaram os pinhais restantes nas terras indígenas do sul do país. Dona Ester
traz o chimarrão. Ainda é noite na aldeia do Pinhalzinho, no oeste Catarinense,
região de Chapecó. Um grande desafio espera os povos indígenas. Estão
planejando uma viagem a Brasília para falar com o presidente da Funai, General
Ismart de Araújo, para pedir medidas urgentes no sentido de desintrusar ( retirar)
os invasores de seus territórios. Na terra indígena Xapecó, no oeste
catarinense, existiam cinco vilas de “fog”(brancos, não índios. E na Terra
Indígena Nonoai, no Rio Grande do Sul, a situação era ainda pior – eram dez mim
pessoas invasores da terra indígena e aproximadamente hum mil índios.
Era final do ano de 1975. Tempos de chumbo e do milagre
brasileiro. O então ministro da Fazenda, Delfim Neto, propalava aos quatro ventos a
sua estratégia redentora, que era de fazer primeiro o bolo crescer para depois
distribuí-lo. Cresceu para uns poucos, e a ditadura se esqueceu de distribuir
os vultosos ganhos de multinacionais e empreiteiras, principalmente.
Maio de 2017. Os Kaingang, Xokleng e Guarani, chegam
novamente em Brasília. Qual não é a surpresa ao constatarem que os problemas continuam quase os mesmos:
terra, violência, racismo, fome e discriminação e ódio aos povos originários.
É gratificante perceber que as sementes plantadas naqueles
idos de 1970 converteram-se em aguerridos movimentos de luta pelos seus territórios e direitos,
num tenaz processo de luta e mobilização continuada. Mas também é preciso
reconhecer que não conseguiram
consolidar processos de autonomia em seus territórios e construir a unidade necessária e
indispensável em suas lutas e projetos de vida e bem viver. Continuam sendo
explorados e dominados pelos não índios e suas terras assediados pelos
fazendeiros e agronegócio, levando em muitos casos aos perigosos processos de
negociação e arrendamento das terras.
Enquanto vivos, a luta continua
“Temos que fazer brotar o espírito guerreiro que está em
nosso coração. Viver ou morrer”, externou uma liderança Kaingang. Entende que
estão sendo empurrados para uma guerra muito difícil. Culpam o governo por não
ter cumprido suas obrigações, principalmente a demarcação e garantia de suas
terras.
Denunciaram a total paralização da regularização de suas
terras, sendo mais de uma dezena de terras Kaingang e uma centena de terras
Guarani precisam ter seus processos
iniciados ou concluídos.
Diante do cenário criminosamente anti indígena e
inconstitucional, os povos indígenas do sul do Brasil unem aos demais povos para realizar as
autodemarcações, fazendo cumprir a Constituição e legislação internacional
sobre os direitos dos povos originários.
O relatório da CPI da
Funai e Incra, que está praticamente
aprovado, é considerado vergonhoso, criminoso e panfletário, por membros da CPI.
No conturbado cenário nacional os povos indígenas
continuarão lutando por seus direitos na certeza de que Deus, Tupã, Topen,
Nhanderu e todos os espíritos dos guerreiros e encantados estarão a seu lado na
garantia da vitória.
A memória das lutas, dos guerreiros que tombaram pela
vida são armas importantes para seguir
no caminho e luta pelos direitos. Em 1975 encontraram o general Ismart na
presidência da Funai, agora encontram novamente um general, Franklimberg, na
presidência do órgão que os ruralistas querem extinguir, promovendo, conforme
declarou um deputado membro da CPI, “limpeza ética e moral”.
Egon Heck fotos
Laila/Cimi
Cimi Secretariado Nacional
Brasília 19 de maio de 2017
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