Representantes
de vários povos e de comunidades tradicionais, mal estão chegando em suas casas
e aldeias e são convocados para um estado de alerta. Suas mentes ainda estão
tomadas com as fortes imagens e sentimentos do spray de pimenta nos olhos, os
longos rituais diante da porta do palácio do Planalto fortemente
protegido, impedindo qualquer
entrada para o diálogo pretendido.
Os poderes e
os poderosos ficam ouriçados e
alvoroçados quando os povos originários pintam seus corpos e armados com seus
direitos rumam para Brasília, Sabem que serão controlados, revistados e
ameaçados. Porém nada disso os intimida ou faz desistir da luta, da guerra.
Afinal de contas apenas exigem seus direitos “nenhum direito a menos”.
Hoje
lideranças indígenas participantes do Conselho Nacional de Política
Indigenista, foram surpreendidos por mais uma inciativa cínica e letal do
governo: foi anunciado mais uma vez uma
pretensa reestruturação da Funai. O governo passa a ser porta voz do que está
em curso, a partir da bancada ruralista: a extinção da Funai. Ou melhor, já é,
conforme essa bancada, a apresentação do atestado de óbito.
Desde a
criação da Funai, durante a ditadura militar, em 1967, ela tem sobrevivido em estado de
reestruturação permanente, sempre a partir dos interesses anti indígenas. Foram criadas inúmeras comissões de estudo,
feitas experiências desastrosas. Sempre sem consulta ou diálogo com os povos
indígenas e suas organizações. Sempre a partir de pressões de interesses nos
territórios indígenas e seus recursos naturais.
O general Rangel Reis, então Ministro do Interior, a quem estavam
submetida a Funai, chegou a fazer a projeção de um Brasil sem índios, até o ano
2.000.
Ontem
celebramos os 33 anos do assassinato de Marçal Tupã’i. Dezenas de lideranças
Guarani já foram assassinadas neste período, na total impunidade. Cadê os
corpos do professor Rolindo e do cacique Nizio Guarani Kaiowá? Continuam
ocultados pela ignomínia e barbárie que se instalou no Mato Grosso do Sul,
contra os povos indígenas. “Esses massacres, genocidas serão um dia cobrados
pelos Guarani, conforme diz a canção em homenagem ao martírio de Marçal.
Lembro
também, com muito carinho, os 250 anos do assassinato de Sepé Tiaraju e seus guerreiros
Guarani, como diz a canção “Quando o exército de Espanha e Portugal chegou
aqui, pra expulsar dos sete povos toda gente
Guarani, Tiaraju que era cacique reuniu seus guerreiros e sem medo dos
canhões atacou só com lanceiros”.
Só é
possível compreender esses séculos de resistência desse povo se nos colocarmos
em sintonia com a profunda religiosidade e espiritualidade, vivenciada nas
aldeias, nas beiras de estrada, nas retomadas e nas situações de adversidade
extrema.
E neste rol
de mártires e lutadores da justiça em nosso país e na Ameríndia, presto homenagem a Ir. Antônio
Secchin, Fidel Castro,Zumbi, Vicente Cañas, dentre os milhares de guerreiros
que tombaram por defender seus povos e buscarem a justiça, a paz e a
solidariedade.
Lutar não
foi em vão! Neste final de ano, mais uma vez as constantes ameaças a seus
direitos exige que se mantenham mobilizados para não serem surpreendidos com a
supressão de seus direitos constitucionais.
Texto e
fotos: Egon Heck
Cimi Secretariado Nacional
Novembro,
2016