Professores
Indígenas criam Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena
Após dois dias de debates e reflexões sobre
os desafios e graves problemas enfrentados nas aldeias e comunidades indígenas
de todo o país, 120 professores indígenas, de 33 povos de 11 estados, decidiram
criar uma ferramenta própria do movimento, para unir as forças e se mobilizar
na defesa dos direitos de seus povos.
Foi criado o Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena,
como espaço de diálogo, articulação e luta. Ele é resultado de uma caminhada do
movimento dos professores indígenas em nível local, regional e nacional. Nas
últimas décadas, os professores indígenas fizeram um importante processo de
articulação e organização por regiões e povos. A precarização da educação
escolar nas aldeias, desde o ensino fundamental até a expressiva presença nas
universidades, fez com que se consolidassem um processo de luta tanto por uma
educação diferenciada, intercultural multilíngue e comunitária. Porém, os
entraves das políticas colonialistas impediu com que se avançasse neste
processo.
Educação política
O professor GersenBaniwa insistiu na importância da
articulação, mobilização e formação política dos professores indígenas. Para
ele, apesar de algumas conquistas e avanços, existe um impasse, para consolidar
novos passos na construção e consolidação dos projetos de autonomia e
autogestão nos territórios indígenas. E isso só é possível enfrentar com
consciência política e étnica, através da formação política dos professores e
lideranças e da luta. Ressaltou que na década de 80 o movimento indígena tinha
clareza na luta por seus direitos e formava seus quadros na luta. “Hoje
sentimos a falta dessa formação”.
“Apesar de uma formação acadêmica sempre maior dos
professores indígenas, o que se precisa na verdade é que das universidades
saiam guerreiros e não pessoas subservientes ao sistema”, afirmaram participantes
do encontro.
Ao avaliar o quadro atual,Gersen enfatizou que “precisamos
desgovernizar (não nos deixar subjugar pelo poder/governo) descolonizar e
destutelar”.
Foram debatidas as agendas mais importantes do movimento
indígena e dos professores indígenas na perspectiva da construção da autonomia e
autogoverno. Apesar de ser um sonho, é um caminho a ser trilhado através da
articulação, união e soma de esforços .
Um dos exemplos foi a presença de lideranças religiosas e
políticas no encontro. Somente com a conjugação das forças espirituais, da
cultura, dos territórios, é que se conseguirá vencer os inimigos de fora e os
introjetados nas comunidades pelo sistema colonizador capitalista.
Na carta às autoridades brasileiras, reafirmam: “Acompanhamos
com pesar as ações jurídicas, projetos de lei e atos administrativos
desfavoráveis aos povos indígenas nos Três Poderes. Esses ataques aos direitos
indígenas precarizam também a educação escolar indígena, criminalizam nossas
lideranças, fomentam o racismo e incitam a violência. Para ilustrar, lembramos
o assassinato por pistoleiros dos professores indígenas Rolindo Vera e
Genivaldo Vera, quando acompanhavam seus alunos no retorno à aldeia Ypo’i, em
2009, no município de Paranhos, MS”.Reafirmam a necessidade das aldeias e
comunidades indígenas unificarem as lutas pelos direitos: “Nossa preocupação
soma-se às lutas de nossos mestres tradicionais e caciques pelos nossos
territórios tradicionais, direito à saúde e à educação diferenciada. Levamos ao
conhecimento”.
Em parte do encontro realizarão mobilizações em Brasília. Os
professores aprovaram um documento contra a PEC 215 e o marco temporal. Em
torno dessa luta se unificam também com a luta dos quilombolas e da Mãe Terra.
Estão presentes no encontro representantes de lutas emblemáticas como Nhanderu
Marangatu, onde foi assassinado Simeão Vilhalva e dos Krenak, recentemente
atingidos pelo desastre ecológico de Mariana com a destruição do Rio Doce.
Egon Heck
CimiSecretariado
Brasília, 2 de Dezembro de 2015.