Estamos diante de uma realidade estarrecedora. De um lado
uma população originária invadida e maltratada pelo projeto colonizador, hoje
transvestido de agronegócio e força paramilitar, tendo a seu serviço um Estado
omisso e conivente. As consequências são as mais drásticas imagináveis:
centenas de indígenas covardemente vilipendiados e violentados em seu direito
mais sagrado, seu tekohá, seu território tradicional. Uma liderança assassinada, uma dezena
de feridos, e um ódio mortal disseminado nos meios de comunicação. “Vamos
tirá-los no peito e no grito”, vociferou a presidente de um sindicato
rural. Fazendo coro à ofensiva genocida
nas redes sociais são alardeados os gritos de “temos que matar esses índios”.
As armas da mentira e
do ódio
O maquiavelismo e o cinismo são tamanhos que chegam às raias
do absurdo de afirmarem que Simião Vilhalva teria sido morto por indígenas. E
onde estão os corpos do professor indígena Rolindo Vera, do cacique Nizio
Gomes, do jovem Kaiowá Guarani sumido numa das retomadas de Pyelito Kuê? Quantos indígenas já não foram assassinados
em Nhanderu Marangatu, na total impunidade, como no caso de Marçal, Dorvalino e
agora Simião?
A forma como estão incitando a
população contra os índios configura uma nítida intenção genocida. Não é
possível que tamanhas incitações ao ódio e violência sejam toleradas num estado
que se diz democrático e de direito. São
os índios do Paraguai que estão para invadir o Mato Grosso do Sul? Não é
exatamente o grande capital agroindustrial, nacional e estrangeiro, e do
agronegócio que estão se apossando da maior parte do território do estado,
inclusive as terras indígenas?
Jogos Mundiais Indígenas,
assassinatos, violência e ódio
Nhanderu Marangatu é o desmentido
mais cabal do que os organizadores dos jogos e o governo brasileiro insistem em
levar ao mundo: a imagem de um país pacífico, respeitador dos direitos e das
vidas de sua população originária.
Não seria mais coerente demarcar
as terras indígenas, punir exemplarmente os assassinos das lideranças, e só
depois pensar na realização de Jogos Mundiais Indígenas no Brasil? Enquanto o
chão brasileiro continuar sendo manchado com o sangue de seus povos
originários, será uma falácia fazer o mundo crer naquilo que não somos. Não seria
mais coerente usar esses recursos para regularização das terras indígenas?
As olimpíadas mundiais estão à
porta. É essa a melhor forma de
mostrarmos que país é esse.
Professores indígenas na luta
“Nossas lágrimas vão alimentar
nossas raízes”, afirmou sensibilizado e indignado Anastácio Kaiowá Guarani. “Os
que tombaram estão junto de nós nos dando força, pois morrer por uma boa causa,
nos deixa feliz”. Solicitou a solidariedade de todos contra o brutal
assassinato de Simião Vilhalva. Em homenagem à memória dele e de todos os que
tombaram na luta por direitos, foi feito um minuto de silêncio.
No início do encontro nacional de
professores indígenas, que tem como um dos objetivos a organização dos
professores indígenas em nível nacional, através da criação de um Fórum, Gersen
Baniwa ressaltou que “esse é um pontapé inicial, é uma sementinha, que
esperamos cresça rapidamente”. Ressaltou que esse é um dos momentos mais difíceis
do período pós-ditadura militar.
Egon Heck
Cimi – Secretariado Nacional
Brasília 31 de agosto de 2015