Mobilizar a
memória perigosa. Lutar sabia e
tenazmente contra todas as tentativas de suprimir direitos constitucionais.
Dizer um enfático basta às violências e violações dos direitos dos povos indígenas e outras
populações oprimidas.
Nesse
contexto realizou-se em Brasília a reunião
da Comissão Indígena da Verdade e Justiça. Esse é um dos espaços de luta do
movimento indígena e aliados para fazer frente à avalanche de iniciativas que
visam retirar direitos constitucionais e consuetudinários desses povos,
articulados pelas ruralistas e o agronegócio
com a complacência e anuência tácita do governo.
O objetivo
maior da Comissão Indígena é que se faça justiça através da reparação coletiva
e individual pelos crimes perpetrados
contra os povos indígenas com a participação direta de entes do Estado ou pela
omissão do mesmo. O Ministério Público Federal, que participou da reunião,
constituiu um grupo de trabalho que já
está trabalhando em alguns casos.
Hoje como
ontem
Também foi
insistido na importância de se reescrever a história desse país com os povos
nativos para que aflore a verdade desses 500 anos de invasão, em que em cada
século se exterminou mais de m milhão de indígenas, conforme afirmação de
Orlando Vilas Boas. Essa história não pode continuar sendo jogada embaixo do
tapete. A memória militante e permanente
contada por cada ancião dará visibilidade a essa resistência combativa e
insurgente dos povos massacrados, porém não vencidos.
Há poucos dias o governo brasileiro foi denunciado na
Organização das Nações Unidas – ONU pela violação dos direitos dos povos
indígenas, pela repressão e prisões arbitrárias, pela paralisação da demarcação
das terras indígenas, que estão na origem de situações clamorosas como o
suicídio de 73 Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul, em 2013. Situação
semelhante às denuncias feitas por Lindomar Terena, ocorreu em 1980, quando
Daniel Pareci denunciou na Assembleia Geral
do Conselho Mundial dos povos indígenas – CMPI, as arbitrariedades e
violências contra os povos indígenas
praticadas pelos governos da ditadura militar. Nesta ocasião foi aprovado
resolução de encaminhar essas denúncias à ONU e ao Vaticano. Neste mesmo ano
Juruna foi impedido de ir ao Tribunal Russel, na Holanda, onde foram analisadas
as violações dos direitos dos povos indígenas nas Américas. Só após intensa
batalha judicial ele conseguiu viajar, presidindo o último dia dos
trabalhos. O Brasil foi condenado por
violação dos direitos indígenas e genocídio. Do tribunal também participaram
Darcy Ribeiro, Alvaro Tucano, Dom Tomás Balduino, Marcio Souza e Egydio
Schwade. Os governantes de então temiam
que as denuncias graves maculassem a
imagem do país.
Mobilizando a luta e a esperança
Inicia nesta
segunda feira mais uma semana de mobilização nacional dos povos indígenas,
promovida anualmente pela Articulação
dos Povos Indígenas do Brasil - APIB,
com apoio dos aliados da causa.. A pauta principal é a garantia das terras e
territórios indígenas, que estão sob intensa pressão por parte do Estado
brasileiro, especialmente o poder Legislativo, através da bancada ruralista e o
agronegócio. Estão em curso inúmeras iniciativas para suprimir direitos
indígenas da Constituição. As
mineradoras também voltaram com sua
artilharia e máquinas pesadas, postadas diante das terras indígenas.
Gol da terra
A Copa do
Mundo está à porta. O governo propala e se ufana de que entregou ingressos a
alguns indígenas. A mobilização indígena está interessada em saber quando vão
ser demarcadas as terras indígenas e reparados os danos ambientais e massacres
cometidos contra esses povos.
A mãe terra
clama pelos seus primeiros habitantes, juntando-se a eles
Nesta semana
de mobilização pela vida e os direitos dos povos originários.
Só haverá
gol com a demarcação e garantia das terras, respeito à natureza e justiça.
Estamos todos convocados parra essa mobilização
Egon Heck
Cimi – Secretariado nacional
Brasília, 26 de maio 2014